Toda sociedade amplamente considerada tem, em sua base, a família, uma sociedade primordial que nasce de um homem e uma mulher que se unem em amor e dele produzem frutos. Quando essa base se desintegra, toda a sociedade caminha para a ruína.
“Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança.”
“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.” (Gn 1, 26a.27)
Existe viva ainda no mundo uma sociedade mais antiga do que todas as que conhecemos. É uma instituição natural em sua origem e seus membros são a obra mais perfeita do amor de Deus: a família.
Os seus conceitos podem ser diversos, conforme as culturas e nações, como também os ritos que cercam seu nascimento e os modos de reconhecimento pela sociedade e pelo Estado.
Mas, na essência, ela é fundada na natureza criada por Deus, porque há uma união de vontades e corpos entre um homem e uma mulher para a constituição da sociedade mediante a geração e a educação dos filhos, como uma missão de cada pai e de cada mãe.
Foi o que um santo do nosso tempo, São Josemaría Escrivá, o santo do cotidiano, nos ensinou, afirmando que da consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da nossa vida: a nossa felicidade.
“O segredo da felicidade conjugal está no quotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria escondida de chegarem ao lar; no trato afetuoso com os filhos; no trabalho de todos os dias, em que toda a família colabora […].”
Nossa felicidade deve ter como base um amor que, nestes tempos insanos, é antiquado, mas, por isso mesmo, muito melhor que os outros oferecidos: um amor que é eterno, porque um dom, uma graça.
Afinal, nada devemos fazer que não amar; doar-se, entregar-se.
É olhar para o esposo ou a esposa no início de um dia e ver como Deus foi bom ao dar um ao outro, porque somente dessa entrega é que os frutos nascem únicos e singulares dos dois.
Mas, parece que a vida familiar nos intima a repensar constantemente nas atitudes concretas, seja a partir de um olhar para dentro de si, das próprias atitudes, seja para fora, para atender às necessidades do outro, o próximo.
Quem é o outro? Quem é o próximo?
É aquele que vemos e por quem temos “compaixão”, isto é, com quem sofremos juntos. Porém, antes de ter compaixão, outra ação é necessária: ver, enxergar o outro.
É ao perder a consciência dessa realidade tão sublime que tantas famílias acabam por desintegrar-se…
Essa atitude é justamente oposta à de quem vive centrado apenas em si mesmo; é de quem sai de si, olha as necessidades dos outros e se compadece. Mas compadecer não é um gesto passivo, antes, é um movimento impulsionador, que leva a ter atitudes concretas.
É por meio de gestos concretos que uma família vive: atenção, olhar e falar com respeito; é, antes de querer ajudar a outras pessoas, perceber as necessidades dos que convivem dentro da própria casa.
A Sagrada Família de Nazaré: modelo para todas as famílias
Os últimos anos nos deixaram uma situação bem mais clara: as pessoas têm dificuldade de conviver e suportar umas às outras no próprio seio familiar, talvez em razão da rotina, da ausência de novas emoções…
Mas este não é, afinal, o real conceito de família? É amar, é agir com amor, buscando a felicidade do outro, do próximo, constantemente, e dando-se a isso por inteiro, em todas as circunstâncias.
A felicidade pessoal vem em decorrência disso.
Iniciamos este texto falando que os membros de uma família são a obra mais perfeita do amor de Deus, e significa exatamente isto: que entregar-se ao outro, em serviço e em amor, é refletir o amor de Deus, que já está em nós desde o momento da nossa concepção
É ao perder a consciência dessa realidade tão sublime que tantas famílias acabam por desintegrar-se, e as sociedades das quais elas deveriam compor a base, por conseqüência direta, encontram a ruína.