O laicismo é uma ilusão social que promulga a sentença mais definitiva para todas as sociedades que negam o Reinado de Cristo: enquanto creem libertar-se, caminham desenfreadamente para a ruína.
Ao instituir a solenidade de Cristo Rei do Universo, em 1925, o Papa Pio XI quis proclamar a realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o mundo:
“Rei das almas e das consciências, das inteligências e das vontades, Cristo é também o Rei das famílias e das cidades, dos povos e das nações, o Rei de todo o universo.”
Em sua encíclica Quas primas, Pio XI ensinou que o laicismo é a negação radical da realeza de Cristo, persegue os cristãos e condena-os a guardarem a sua fé em uma gaveta, sob a alegação de que “o Estado é laico”, buscando organizar a vida social como se Deus não existisse, levando, assim, muitos batizados ao abandono da fé e conduzindo a sociedade à ruína.
Esse princípio do Estado laico tem sido usado como pretexto para a implantação de um Estado laicista, no sentido de governos que se autoproclamam “neutros”, mas que, na prática, são anticristãos e antirreligiosos, quando não explicitamente ateístas.
Muitos Estados começaram negando a soberania de Cristo sobre todas as nações. Aos poucos, sujeitaram a Igreja à autoridade civil, entregando-a, por assim dizer, ao capricho de governos. Houve até quem pretendesse substituir Deus por um simples sentimento de religiosidade natural. Certas sociedades, por fim, julgaram poder dispensar-se do próprio Deus e fizeram consistir a religião no esquecimento consciente e voluntário de Deus.
… o abandono da fé, causado pelo laicismo, é desastroso para todas as nações.
Além disso, no decorrer da história, comprovou-se que a neutralidade do Estado em assuntos religiosos é não somente absurda como também impraticável. Isso porque, quando governos renegam a lei natural de Deus, assumindo o princípio da maioria como juízo universal dos costumes e das tradições, o Estado acaba por se constituir em uma nova divindade.
Isso aconteceu todas as vezes em que as autoridades quiseram banir a religião do coração dos povos.
Celebrar a Cristo Rei é recordar o fato de que, em qualquer nação do mundo, existe um poder espiritual que está acima do Estado. E se não permitirmos que esse poder seja exercido por Cristo, inevitavelmente o será pelo Maligno.
Cristo é o Rei do universo, e deve reinar na sociedade. Seu reino é um reino de justiça, de amor e de paz. Porém, vemos que não há paz no mundo porque não há paz nas consciências.
Apenas Cristo é capaz de conduzir o ser humano ao que há de mais elevado, reinando em sua alma e em seu coração.
O Cardeal Pie de Poitiers, na França, nos ensinou uma obviedade digna de se dizer: “Se se nega o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, a conseqüência inevitável é a tirania, a instabilidade, a mediocridade, o caos e a corrupção”.
E não é exatamente isso que vemos hoje?
A doença da sociedade atual tem origem, entre outras coisas, na perda do senso natural da realidade, que faz com que as pessoas vivem uma ficção.
Por esse motivo, os governos já não são organizados como famílias, mas por meio da propaganda demagógica, que forja falsas lideranças.
Nunca o mundo precisou tanto de um Rei como agora. Não é por acaso que a Igreja insiste no anúncio do reinado de Cristo, entendendo que é a partir da submissão a esse Deus amoroso que podemos, verdadeiramente, superar as seduções do diabo, as maquinações do mundo e a rebeldia das nossas vontades.
Muitas tiranias têm se colocado sobre a consciência daqueles que, erroneamente, se apartaram de Deus: vícios, ideologias, corrupção, violência generalizada… Tudo isso está destruindo a sociedade atual.
Por isso, todos temos uma escolha a fazer: ou seguimos a Cristo, submetendo–nos inteiramente a Ele e reconhecendo Seu Reinado, ou nos tornamos reféns de nossas paixões.
Lembrarmo-nos de Cristo Rei é uma maneira eficaz de ressarcir, de algum modo, o abandono da fé, causado pelo laicismo, tão desastroso para as nações.
Não à toa, quanto mais o nome do nosso Redentor, vergonhosamente, se passa em silêncio, quer nas conferências episcopais, quer nos parlamentos, tanto mais devemos reconhecer os direitos que a Cristo conferem Sua dignidade e poder real.
Pois, se todo o poder foi dado a Cristo Nosso Senhor no céu e na terra, se os homens, resgatados pelo Seu sangue preciosíssimo, se tornam, com novo título, súditos de Seu império, se, finalmente, esse poder abraça a natureza humana em seu conjunto, é claro que nenhuma de nossas faculdades pode se subtrair a tão alta soberania.
É preciso, pois, que Ele reine em nossas inteligências: com plena submissão, com adesão firme e constante, devemos crer nas verdades reveladas e nos ensinamentos de Cristo.
É preciso que Ele reine em nossas vontades: devemos observar as leis e os mandamentos de Deus.
É preciso que Ele reine em nossos corações: devemos mortificar nossos afetos naturais e amar a Deus sobre todas as coisas.
É preciso que Ele reine em nossos corpos: devemos transformá-los em instrumentos, ou, para falarmos como São Paulo (Rm 6, 13), “em armas de justiça, a serviço de Deus”, para a santidade de nossas almas.
Pois, se Ele não é Rei, nós somos nada.